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E agora José?
Por Presença Propaganda em Jun.19, 2010, Categoria Cultura
Não adianta esconder Saramago: você foi um mago. Das letras. Deixando a modéstia de lado – você que a tinha como prática de vida – sua literatura é uma das mais brilhantes de todos os tempos. Obra oriunda da pena de um autor que integrou um time de escritores do qual Portugal muito se orgulha e o mundo reverencia.
Tudo começou com um tal Camões, que passou a bola para o Eça, que a deixou para o Pessoa, que triangulou com você e agora está com o Lobo Antunes. Isso para resumir o que não caberia nesse blog. Se formos fundo, Deus nos livro! São volumes de qualidade que não acabam mais.
E por falar em Deus, não espere nenhuma oração por você, até em sinal de respeito pelas suas crenças. Nesse caso a crença de que Deus não existe. Ou seja, nesse momento, segundo a sua ótica, você chegou ao final. Ao ponto final de 87 anos de pura criatividade e combatividade.
E agora José? Saramago. Como ficamos nós? Mais uma vez órfãos daqueles que nos ensinam a pensar, lutar, trabalhar? Mais uma vez afundados na cegueira da qual ensaiávamos sair? Mais uma vez nos perguntando por que quem vale a pena não merece um epílogo? Perguntas, sem respostas, como aquelas que você gostava de fazer.
José Mindlin, uma vida para se ler e reler
Por Presença Propaganda em Mar.01, 2010, Categoria Cultura
“Um país se faz com homens e livros”. O pensamento de Monteiro Lobato cai como uma luva ao personagem de uma das mais belas páginas da nossa história recente, José Mindlin. Bibliófilo reconhecido aqui e lá fora, dono de uma das mais expressivas bibliotecas particulares que se tem notícia, a Brasiliana, 40.000 volumes doados no ano passado para a USP, Mindlin foi um exemplo ímpar de dedicação à cultura. Exemplo a ser seguido.
Num país em que se lê cada vez menos; em que o incentivo à leitura depende muito mais de iniciativas pontuais de organismos da sociedade civil do que do poder público, que deveria encampá-lo com vontade; num país em que o nível de intelecção de textos, principalmente dos jovens, vem caindo assustadoramente, Mindlin destacou-se, serenamente, por mostrar a necessidade de cultivar um hábito fundamental. A leitura, e só ela, é capaz de construir o pensamento. De despertar a criatividade, a curiosidade. De nos inserir no debate social. De nos emocionar, libertar, progredir.
Dono da cadeira 29 da Academia Brasileira de Letras, Mindlin foi um caso raro de leitor que ocupou o trono máximo dedicado aos escritores. Uma justa homengem àquele que poderia, pela sua trajetória, merecer um pensamento que parafraseasse o de Lobato, cunhando-o da seguinte forma: “Um país se faz com homens como José Mindlin. Aqueles que amam os livros”.
Foto de Eder Medeiros, Folha Imagem