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Só podia ser na África
Por Presença Propaganda em Jun.14, 2010, Categoria Cultura
15 de junho de 2010. Numa Johannesburgo de tantas histórias, 11 jogadores canarinhos têm a incumbência de começar a escrever, mais uma vez, um belíssimo capítulo da trajetória vencedora do nosso futebol. Agora, no entanto, o enredo se desenrola num continente em que nos sentimos em casa: a Mama África. Talvez, e por isso mesmo, a emoção dessa Copa seja redobrada para nós, brasileiros de todas as Áfricas.
África do bravo e amado Mandela, símbolo da luta pela igualdade. África de talentos como o de Miriam “Pata Pata” Makeba, Amos Tutuola e Ondjaki. De libertários como Steve Biko. Dos revolucionários Samora Machel e Patrice Lumumba. De maratonistas fantásticos como Abebe Bikila. África iorubá. África de Alá. África aprisionada. África libertada. África que não se rende a despeito de tudo e de todos. África que insiste em sorrir, como nossos irmãos de Serra Leoa. Após anos de sangrenta guerra civil, estão reconstruindo sonhos interrompidos, como o fazem hoje os sul-africanos, os angolanos, os moçambicanos.
Porque ninguém vence a África e os seus povos. Gente que sabe ganhar a simpatia de todos com suas danças, cores e sabores. Com seus sons fortes e às vezes matusquelas, como o das milhares de vuvuzelas. Um dos tantos meios que os africanos usam para nos ensinar como rebater as mazelas, com alegria e certeza num futuro melhor.
Essa Copa só podia ser na África. Um momento mágico a ser aproveitado em cada ataque, defesa, escanteio. Em cada drible, embaixada ou cruzamento. Em cada lágrima de emoção. Em cada lição que a gente tira quando sabe que ali, do outro lado do oceano, tem uma África que nos emprestou tanto da sua cultura, e que hoje recebe o aplauso por tudo o que significa para nós e para quem a olha não mais de cima para baixo, com os olhos da cobiça dos conquistadores, dos mercadores de escravos ou dos aproveitadores em geral. Mas daqueles que aprenderam a olhá-la nos olhos, de igual para igual, como deve ser.
Fernando Brengel